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terça-feira, 19 de março de 2013

Ubuntu


Outro dia, durante a aula de redes convergentes, surgiu um debate entre os alunos sobre a importância do dinheiro e, pra minha surpresa, a maioria dos colegas acabou aceitando que com dinheiro o suficiente, qualquer tipo de trabalho vale a pena e que todo mundo acaba cedendo a quem pagar mais. Parte da elite intelectual e tecnológica jovem, por maioria, pensa assim e isso me deixa triste.

Tem uma frase do Robert Frost que me remete muito à essa discussão que, traduzida, fica mais ou menos assim: "Trabalhando duro, oito horas por dia, você pode, um dia, chegar a ser chefe e trabalhar doze horas por dia".

Dinheiro não é tudo. Quem tem como único objetivo ficar rico tá fazendo o quê pra contribuir com esse planeta? Se o único fim é o lucro, até onde se está disposto a sacrificar o bem estar - próprio e dos outros - em nome disso?

Não me entendam errado. Dinheiro é importante. Ele pode ser trocado por bens e serviços. Mas não é tudo. É mais importante ter um objetivo do que se quer ser. Se esforçando o suficiente, se pode chegar a ser um excelente programador, um excelente gestor, um excelente jogador de boliche, um excelente catador de lixo. Mas ninguém se torna um excelente rico. Tenha um ideal do que queres ser. Nutra ele. Cuide dele. Seja ele, que dinheiro se consegue. Alguns poucos sortudos ficam ricos fazendo o que lhes é ideal, mas a maioria vai, minimamente, se virar. E vai se virar fazendo o que é bom pra si, evoluindo como ser humano junto com o grupo.

É fácil pensar que eu sou um utópico, um sonhador. Eu sou. Mas eu não estou só. Os meus heróis também são. Eles dedicaram e dedicam a vida lutando por isso. Acreditando nisso. Morrendo por isso. Vivendo isso.

Eu não me refiro a revolução. Mudar o mundo, todo mundo quer. Os mais pessimistas podem dizer que de nada adianta e que o mundo não tem jeito, mas tem, e a mudança já ocorre. As grandes empresas hoje têm que ter responsabilidade social, responsabilidade cultural, responsabilidade ambiental. Não sou ingênuo a ponto de acreditar que elas fazem isso unicamente em prol do bem do mundo, mas elas fazem isso por que o mundo exige que elas o façam. E tudo isso é óbvio. O coletivo querer o bem do coletivo. Eu já estive em países ricos e países pobres. Na abundância em meio a miséria e na miséria em meio a abundância. Estive em asilos, hospitais, igrejas, orfanatos, templos espíritas, terreiros de macumba e casas de santo. Não importa a cor, a crença a sexualidade ou a nacionalidade - todos esses grupos compartilham um objetivo: o bem do grupo.

A maioria deve conhecer o sistema operacional, mas todo mundo sabe o que significa Ubuntu?

“Um antropólogo que estudava os usos e costumes de uma tribo africana propôs uma brincadeira inofensiva às crianças. Encheu um pote com doces e guloseimas e colocou-o debaixo de uma árvore. Depois, chamou as crianças e combinou que quando desse o sinal, elas corriam para o pote e a que chegasse primeiro ficava com todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças posicionaram-se na linha de partida que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando deu o sinal, todas as crianças deram as mãos e começaram a correr em direção à árvore onde estava o pote. Quando lá chegaram, distribuiram os doces entre si e começaram a comê-los.
O antropólogo foi falar com as crianças e perguntou porque razão tinham ido todos juntos quando o primeiro a chegar ficaria com tudo que havia no pote e, assim, comeria muito mais doces.
As crianças responderam: ‘Ubuntu, tio. Como poderia um de nós ficar feliz se todos os outros estivessem tristes?’”

Ubuntu significa "Eu sou quem sou porque somos todos nós".

Então, cara, se esforce. Dê o sangue. Caia. Levante. Falhe. Tente de novo. Falhe de novo. Se exceda e conquiste, mas não priorize o dinheiro. A gente faz parte de uma tribo filhadaputamente enorme. Priorize a tribo. Priorize Ubuntu.