Foi o Randall que disse "... vivemos presos em laços. Revivendo alguns dias repetidas vezes e visionamos só alguns poucos caminhos à nossa frente. Vemos as mesmas coisas a cada dia, respondemos da mesma maneira, pensamos os mesmos pensamentos, cada dia uma pequena variação do anterior, cada momento seguindo suavemente as delicadas curvas das normas sociais. Agimos como se, se conseguirmos passar por hoje, nossos sonhos vão voltar amanhã".
Meus melhores dias tem sido cansativos e marcados por decepções. Nos piores, eu durmo. A letargia e o sentimento de inutilidade tem me posto cada vez mais introspectivo e eu não sei o motivo. Nunca soube, apesar das especulações. Isso já me acontece há anos. 6? 8? 10? Não sei. Me questiono se já fui verdadeiramente feliz, às vezes. Já estive realizado profissional, social, acadêmico e amorosamente e não lembro de ser muito menos triste do que sou hoje. Acho que o que incomoda, o que me empurra a externalizar, é a frequência com a qual isso tem se apresentado. E os episódios tem se prolongado. Dias passaram a ser semanas e assim, de repente, estou três semanas em casa, saindo duas vezes, pra ir ver a alguns amigos.
domingo, 11 de novembro de 2012
domingo, 11 de março de 2012
Da sanidade
Todo dia eu questiono a
minha sanidade.
Eu tinha uma amiga que
ficava extremamente ofendida se alguém perguntasse se ela era doida.
Uma pergunta do tipo “Não vou fazer isso, tu é doida?” era
motivo pra ela fechar a cara. Bobagens à parte, no sentido de não
saber interpretar uma expressão coloquial, – afinal de contas,
duvido que as pessoas partam do pressuposto que os interlocutores
são, na verdade, mentecaptos, quando assim indagam – eu gostaria
de responder, sempre que possível, sim.
Não de possuir um
distúrbio psicológico que realmente atrapalhe o andamento da minha
vida (apesar de eu possuir certo fascínio pelos loucos – herdei da
minha mãe), mas eu não quero acordar um dia e descobrir que eu sou
uma pessoa “normal”. Da que vive pra comer. Da que acorda pra
trabalhar pra poder dormir pra poder acordar pra trabalhar. Ah não.
Ser nerd e estudante
de computação me põe na cabeça das pessoas como um robô. Acham
esquisito que eu tenha medos, que eu tenha alguma fé, que eu seja um
ser orientado pela paixão. Eu tenho e sou tudo isso. E eu tento expressar do jeito que consigo. Aliás, paixão é o impulso desse mundo.
Mas isso fica pra outro texto, um de comida, provavelmente.
Todo dia eu questiono
minha sanidade e eu espero nunca perder essa dúvida.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Do dia das mulheres
Essa moça tá diferente.
Ela é dura na queda, tem tatuagem e faz cinema.
É a mulher de cada porto. É Ana de Amsterdam e é Geni.
É Rita, Januária, Iracema, Madalena, Cecília e Lígia.
A moça do sonho é dançarina. É Carolina. É açúcar e é afeto.
Me acorda, me espera, me aperta até sufocar.
E é a mais bonita.
Parabéns, meninas.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Da religião e a morte
A minha mãe buscou
conhecimentos a vida inteira. Ela estudava sobre tudo, o tempo todo.
Durante muitos anos da vida, foi cética em relação a muito, mas
nunca desistiu de procurar. E foi no afro que, há uns sete anos,
encontrou o que procurou por tanto tempo. Não sem antes se
desiludir. E era notável como lhe fazia bem, tudo aquilo.
Ela conviveu com uma
doença autoimune por quase dez anos. Na maioria dos casos, a
sobrevida é de uns dois. E ela venceu um câncer no meio do caminho.
É muita força de vontade. Não acredito que haja quem faça isso
sozinho, então só posso acreditar que ela teve muita ajuda. O meu
ceticismo atrapalha, mas tem alguma fé, meio cega, que me faz
acreditar.
Eu não acredito em um
Deus onipresente. Ah, sim, eu acredito em Deus. Vários amigos meus
já se impressionaram com essa informação. De toda forma,
dualidade. Acredito que o mal seja a ausência do bem. E que Deus seja o bem. Dito isto, se o cara estivesse em todo o lugar, esse mundo
seria muito diferente.
Sinto falta do erê.
Ina'ara, pedrinha de fogo de Oyá. A criança mais engraçada que já
conheci. Outro dia sonhei com ela. A gente conversava qualquer coisa
que era corriqueira nos nossos encontros. Foi muito real. Acordei
chorando.
Acredito no
conhecimento. O mundo é vasto demais, e há áreas demais a se
explorar, pra ficar preso a um só tema. É o que me incomoda nos
fanáticos. Obviamente, há de haver os especialistas, se não, fica
todo mundo com conhecimento superficial em tudo, mas meu maior desejo
é continuar ignorante.
Comecei escrevendo com
o propósito de falar da morte, e até agora, nada. Só mostra que a
gente evita mesmo, a todo custo, falar dela, apesar de ser a única
certeza.
Da DPC
Não tinha ressaca, só
cansaço. Frio. Agito na casa, um pouco de correria. A obrigação
moral que assumi de alimentar os amigos bateu e corri pra cozinha,
fazer a última refeição, de tantas, tão divertidas. Tudo pronto e
partimos. No megafone, o último suspiro - “Desculpa,
Guaramiranga!”.
A viagem de volta foi
tranquila. Trânsito mesmo, só na entrada da cidade. Desarrumar as
malas e descansar, mas não sem antes relembrar, com os amigos, os
momentos engraçados.
Encontro uma amiga que
há muito não via pra tomar um café e ela descobre, um pouco mais
tarde, que a tia tinha acabado de falecer. Fulminante. Conversamos
sobre a falta de preparo que a nossa cultura tem com a morte e ela
vai pra casa, quando se acalma.
Fome e preguiça. Ligo a uma amiga e a convido a comer alguma coisa, só pra não ir só. Comemos
um pastel que alimentaria uma família e nos despedimos, por fim, do
feriado.
Em casa, mais momentos
de saudosismo. Risadas. O cansaço incomoda e a solidão também.
Banheiro limpo, cama confortável, silêncio. Tudo isso é estranho.
Tento dormir. Levanto pra ir beber água incontáveis vezes à noite,
me acordando sempre em uma posição estranha. As últimas noites de
sono duraram, em média, 4 ou 5 horas, mas os dias eram longos e
havia sempre muita disposição. Essa noite, que durou umas 10, numa
cama enorme e com essa falta de barulho, foi insuportavelmente
cansativa e eu acordei um caco.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Asfixia
Mais uma
noite acordado. No computador, jogando ou assistindo tevê. Ela me
pediu um mamão. Cortei o mamão e fiz um arranjo com alguma folha,
só pra ver um sorriso. Fazia tanto tempo que ela não sorria. Ajudei
a levantar e fomos deitar. Ela disse pra eu ficar com ela um
pouquinho, que tava precisando de ajuda. Fiquei lá, conversando.
Adormeceu. Continuei lá, no computador, até o pai acordar. Ele me
falou pra ir dormir. Não cinco minutos depois eu escutei os gritos.
Nunca vou esquecer os gritos.
Ambulância?
Agonia. Boca a boca descoordenado, desespero. O ar entra no estômago
e provoca refluxo. Mamão. Meu irmão acordou sem entender e quando
entendeu, paralisou. Carro. Corre. Medo, pressa, adrenalina. A 120 no
curto caminho até o hospital. Ela já tinha ido.
A notícia
do médico foi como atravessar a faca. Um abraço apertado no pai. A
perda é incomensurável e os dois estavam perdidos. Preciso voltar
em casa, só. Encontro uma amiga, vizinha, no caminho e conto. Chego e meu irmão já sabe o que houve. Nos abraçamos e ele fala
que vamos passar por isso - “vai dar tudo certo”. Quebro uma
janela. Soco uma porta. Soco uma porta. Soco uma porta. Sangra e
paro.
A saudade
dilacera. Durante uns dez anos da minha vida, me acostumei a dormir
de dia. Um dos últimos foi o dia mais difícil da minha vida. E da
dela, o último.
Escrito em 20/02/2012
Escrito em 20/02/2012
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