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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Asfixia


Mais uma noite acordado. No computador, jogando ou assistindo tevê. Ela me pediu um mamão. Cortei o mamão e fiz um arranjo com alguma folha, só pra ver um sorriso. Fazia tanto tempo que ela não sorria. Ajudei a levantar e fomos deitar. Ela disse pra eu ficar com ela um pouquinho, que tava precisando de ajuda. Fiquei lá, conversando. Adormeceu. Continuei lá, no computador, até o pai acordar. Ele me falou pra ir dormir. Não cinco minutos depois eu escutei os gritos.

Nunca vou esquecer os gritos.

Ambulância? Agonia. Boca a boca descoordenado, desespero. O ar entra no estômago e provoca refluxo. Mamão. Meu irmão acordou sem entender e quando entendeu, paralisou. Carro. Corre. Medo, pressa, adrenalina. A 120 no curto caminho até o hospital. Ela já tinha ido.

A notícia do médico foi como atravessar a faca. Um abraço apertado no pai. A perda é incomensurável e os dois estavam perdidos. Preciso voltar em casa, só. Encontro uma amiga, vizinha, no caminho e conto. Chego e meu irmão já sabe o que houve. Nos abraçamos e ele fala que vamos passar por isso - “vai dar tudo certo”. Quebro uma janela. Soco uma porta. Soco uma porta. Soco uma porta. Sangra e paro.

A saudade dilacera. Durante uns dez anos da minha vida, me acostumei a dormir de dia. Um dos últimos foi o dia mais difícil da minha vida. E da dela, o último.


Escrito em 20/02/2012

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