Mais uma
noite acordado. No computador, jogando ou assistindo tevê. Ela me
pediu um mamão. Cortei o mamão e fiz um arranjo com alguma folha,
só pra ver um sorriso. Fazia tanto tempo que ela não sorria. Ajudei
a levantar e fomos deitar. Ela disse pra eu ficar com ela um
pouquinho, que tava precisando de ajuda. Fiquei lá, conversando.
Adormeceu. Continuei lá, no computador, até o pai acordar. Ele me
falou pra ir dormir. Não cinco minutos depois eu escutei os gritos.
Nunca vou esquecer os gritos.
Ambulância?
Agonia. Boca a boca descoordenado, desespero. O ar entra no estômago
e provoca refluxo. Mamão. Meu irmão acordou sem entender e quando
entendeu, paralisou. Carro. Corre. Medo, pressa, adrenalina. A 120 no
curto caminho até o hospital. Ela já tinha ido.
A notícia
do médico foi como atravessar a faca. Um abraço apertado no pai. A
perda é incomensurável e os dois estavam perdidos. Preciso voltar
em casa, só. Encontro uma amiga, vizinha, no caminho e conto. Chego e meu irmão já sabe o que houve. Nos abraçamos e ele fala
que vamos passar por isso - “vai dar tudo certo”. Quebro uma
janela. Soco uma porta. Soco uma porta. Soco uma porta. Sangra e
paro.
A saudade
dilacera. Durante uns dez anos da minha vida, me acostumei a dormir
de dia. Um dos últimos foi o dia mais difícil da minha vida. E da
dela, o último.
Escrito em 20/02/2012
Escrito em 20/02/2012
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